sábado, 4 de abril de 2009
Watchmen
Aqui, inicio uma série de críticas de filmes que vi recentemente no cinema. Começo por um dos mais aguardados (pelo menos por mim) nos últimos tempos: Watchmen. Sem mais delongas, a ela:
É claro que o diretor Zack Snyder não tinha chance de receber uma crítica muito favorável deste humilde blogueiro, já que resolveu mexer com algo sagrado. Para mim e para muitos por aí (a história foi eleita pela Time como um dos 100 melhores livros do século XX) Watchmen é responsável por elevar os quadrinhos de super-heróis a um novo patamar: o de arte.
Seu autor, o genial (e excêntrico) escritor inglês Alan Moore, quebrou muitos paradigmas da arte sequencial ao acrescentar elementos completamente estranhos ao meio. Duas de suas mudanças mais radicais foram o tipo de mundo que ele criou (muito mais real e próximo do nosso) e o caráter de seu heróis. Afinal, quem é que coloca fantasia colorida para espancar criminosos na rua? Seus personagens são muitas vezes psicóticos, moralmente repreensíveis e sofrem de problemas comuns como solidão e até impotência. Ou seja: eles são humanos.
Também importante na obra é a forma de sua narrativa: Moore usa conceitos de física quântica, filosofia, sociologia, história etc. para falar sobre a possibilidade real da aniquilação nuclear (referências ao Relógio do Juízo Final estão por toda parte) dentro de uma estrutura que tenta (e consegue) mostrar a sincronicidade de eventos aparentemente desconexos.
Assim, não foram poucos a dizer que Watchmen era uma história infilmável. A julgar pelo resultado do filme, eles estavam certos.
Não que ele seja de todo mau, longe disso. Os créditos iniciais, por exemplo, merecem figurar em qualquer antologia. Mas o resultado final sequer chega perto de atingir toda a complexidade da obra original, mesmo sendo bastante fiel a ela (Snider usa inclusive a difícil linha cronológica cheia de flashbacks utilizada por Moore).
À história: na década de 1930, algumas pessoas resolvem se fantasiar para combater o crime. Ao longo dos anos, esses vigilantes mascarados exercem sua função, ora adorados, ora detestados, muitas vezes usados pelo governo estadunidense em ações dentro e fora do país.
Nenhum deles tinha superpoderes até o surgimento, na década de 1960, do Dr. Manhattan, mais próximo de um deus do que de um ser humano. Com ele, os EUA vencem em poucas semanas a Guerra do Vietnã e conseguem, ao menos teoricamente, a arma definitiva contra os Soviéticos.
Em 1985, ano em que ocorre a ação principal, o Comediante, um ex-mascarado, é assassinado. O crime chama a atenção do psicótico Rorschach (interpretado com brilho por Jackie Earle Haley), único vigilante ainda na ativa. Desconfiando de uma conspiração, o anti-herói começa a contatar antigos parceiros. Tudo isso com o pano de fundo de uma iminente guerra nuclear.
O filme vai bem enquanto fica no estilo policial noir. Mas dá suas derrapadas a partir da metade, justamente no momento em que a história passa a exigir mais do diretor. Aí, Snider mostra todas as suas limitações, principalmente quando as muitas tramas paralelas começam a convergir. Então, ele abusa das cenas de luta sanguinolentas na tentativa de encobrir as falhas na estrutura narrativa.
De qualquer modo, não é um filme a ser ignorado. Serve ao propósito de entreter e, quem sabe, possa despertar o interesse do espectador pela obra original, esta, sim, fundamental.
Trailer:
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