quinta-feira, 23 de abril de 2009

Jia Zhang-Ke

Aproveito a proximidade da estréia em circuito de Inútil, novo filme do diretor chinês Jia Zhang-Ke, para postar aqui algumas observações pessoais a respeito de seu estilo e sua obra, que nos últimos anos vem chamando a atenção de público e crítica em mostras no Brasil.

Zhang-Ke diferencia-se de seus conterrâneos mais famosos, como Wong Kar-Wai e Ang Lee - e, por conseguinte, da concepção que nós temos do cinema chinês -, principalmente por sua estética menos grandiosa, mais realista e quase documental (embora às vezes lance mão de cenas inusitadas e surrealistas).

De fato, em seus filmes, documentário e ficção se sobrepõem e se confundem: os atores não são profissionais, as locações são externas e as tomadas, longas e cuidadosas. A paisagem é tão importante quanto o primeiro plano e participa da trama quase como narradora: as repartições públicas decrépitas retratam uma burocracia inchada e inútil; os grandes centros urbanos são mais canteiro de obras do que lugares feitos para ser habitados.

A figura do canteiro de obras, aliás, é uma chave para o entendimento do trabalho desse diretor. A metáfora aí é que não só a estrutura do país está em construção, mas sim toda a teia de relações humanas, que perderam seu norte com as revoluções do Século XX e o boom econômico atual. Isso em uma nação com mais de três mil anos de história, em que as tradições sempre tiveram muita força na formação dos laços sociais.

As histórias narradas pelo diretor são mínimas, de pessoas comuns colhidas por uma modernidade que mais se assemelha a um terremoto, em seu poder desestruturador. Narrador das transformações por que seu país passa, Zhang-Ke nunca se abstém de ser crítico à realidade chinesa. Por viver em um regime ditatorial, seu cinema é, além de corajoso, criativo e talentoso o bastante para burlar a censura.

Como retratista de um fenômeno extremamente relevante para o mundo atual, Jia Zhang-Ke acabou por tornar-se um dos mais importantes diretores do momento.

Inútil

O documentário mostra toda a cadeia de produção de moda na China, desde as fábricas têxteis que desestruturaram a economia desse setor em todo mundo até a alta costura, passando pelos falsificadores de produtos de grife.





Em Busca da Vida

A obra acompanha as histórias paralelas do carvoeiro Han Sanming e da enfermeira Shen Hong. Han busca a esposa que comprou e que não vê há 16 anos. Shen também procura seu marido, um engenheiro do qual não tem notícias há dois anos. O cenário é a cidade de Fengjie, prestes a ser inundada pela hidrelétrica das Três Gargantas.

As imagens da cidade em ruínas são tão impressionantes quanto o gigantismo da obra da represa. No meio desses colossos, há ainda todas aquelas pessoinhas invisíveis, insistindo em sobreviver ou, ao menos, encontrar nos escombros da cidade semi-abandonada o que sobrou de suas vidas. O título original da obra, Still Life (Natureza Morta), talvez faça mais jus ao que se vê na tela.

Esse filme ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e faz parte do catálogo do Cineclube Paraty.





O Mundo

Um parque temático em Beijing reproduz monumentos famosos de cidades de todo o mundo. O filme acompanha a vida e os relacionamentos dos trabalhadores desse parque. Temas fortes como a exploração sexual e a precariedade das habitações operárias são abordados na obra.





Prazeres Desconhecidos

Numa cidade do interior da China, um jovem sem perspectivas apaixona-se por uma celebridade local. Para conseguir realizar suas fantasias de amor e fuga, deverá enfrentar o empresário da cantora, chefe mafioso, e a falta de oportunidades para mudar de vida.


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