sábado, 18 de abril de 2009

Vocês, os Vivos

No começo, o filme Vocês, os Vivos faz rir. Muito. Em cerca de 50 histórias curtas, recortes da vida são apresentados ao espectador pelo diretor Roy Anderson. A provocar a hilaridade há o ridículo, o grotesco do ser humano.

Mas isso se dá apenas no princípio. À medida em que a ação trancorre, percebe-se, por trás de todas as situações cômicas, o trágico de nossa condição: o vazio, a solidão, a busca desesperada por alguém que nos ouça, que nos entenda. O amor e a felicidade estão sempre em outro lugar, onde ninguém chegou a procurar.

Coitada da mulher gorda, que imagina poder ser livre se tiver uma moto. Pobre da garota tímida, que sonha casar-se com um músico egocêntrico (e que sonho lindo ela tem!). Coitado, até mesmo, do alto executivo, cheio de pretensão após fechar um grande negócio, que só se alegra quando ridiculariza aqueles que têm menos: ele não sabe que a vida aguarda na mesa ao lado, pronta a dar-lhe o choque do real.

Provavelmente na cena mais contundente do filme, um psiquiatra extenuado explica, num desabafo, o nó dessas vidas: como podemos querer ser felizes, plenos, se somos mesquinhos?

Com a câmera quase sempre fixa, Anderson vai amarrando esses contos numa estrutura cheia de humor amargo, esquisitices, música folk e tons de cinza. Uma preciosidade, esse filme.


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