O audiovisual brasileiro vai bem, obrigado. Provavelmente nunca esteve tão bem.
Nunca se produziu tantos filmes nacionais como nos últimos anos, após a fase conhecida como “A Retomada do Cinema Brasileiro”, datada em meados da década de 1990.
Nunca houve tantos filmes brasileiros em cartaz no circuito comercial, inclusive nos Shopping Centers. Consequentemente, nós, brasileiros, nunca pudemos ter acesso a tantas produções nacionais como atualmente. Sem falar no acesso às produções estrangeiras, que continua crescendo.
Conforme destacou recentemente o ministro da cultura, Juca Ferreira, a contribuição do audiovisual para o desenvolvimento econômico e social do Brasil é imprescindível. Segundo ele, o Brasil tem hoje uma das mais robustas políticas públicas para o setor audiovisual no mundo, caminhando para ser o quinto maior produtor do mundo nesse setor. “Esses números são resultado do talento, da organização e do empenho de todos os brasileiros que ocupam a imensa cadeia do audiovisual, e da realização de políticas públicas de fomento”, afirmou.
Visando melhorias tanto no crescimento de mercado quanto no aumento da qualidade, na formação de público e nas produções, o ministro divulgou que tem como diretriz atrair as universidades, os cineclubes e a crítica criativa e colaborativa.
Destacando também a importância de políticas públicas para o audiovisual do Ministério da Educação, Juca Ferreira disse “esta lei trata o audiovisual como parte fundamental da agenda de uma Pátria Educadora e abre as portas da escola para o cinema nacional, para a formação de plateia e para a qualificação da crítica”, referindo-se a Lei 13.006, sancionada no ano passado pela presidente Dilma Rousseff, que obriga a exibição de produções nacionais nas escolas por, no mínimo, duas horas mensais.
Os governos estaduais, em sintonia com as diretrizes federais das pastas da cultura e da educação, também têm criado projetos de apoio à formação de cineclubes dentro das escolas, envolvendo toda a comunidade escolar.
Em outras palavras, queremos dizer que os cineclubes brasileiros, estas organizações nãocomerciais que atuam em espaços alternativos de exibições de cinema – somos mais de 1.300 ! – apesar de todas as dificuldades enfrentadas no dia-a-dia, também podemos afirmar: O CINEMA BRASILEIRO VAI BEM, OBRIGADO E CONTRIBUIMOS PARA ISTO, TRABALHANDO VOLUNTARIAMENTE.
Um exemplo que justifica a nossa contribuição é a parceria estabelecida no início de 2011 entre o Cineclube Paraty e o Escritório do IPHAN em Paraty, quando a então chefe deste escritório abriu as portas de um espaço que se encontrava ocioso para a ONG equipar o local após ter sido contemplado pelo Edital Cine Mais Cultura no final de 2010. Este edital do governo federal, através do Ministério da Cultura, premiou o Cineclube Paraty e muitas outras instituições por todo o país, com equipamentos de audiovisual, com um vasto acervo de DVDs nacionais e uma capacitação de uma semana, realizada na cidade do Rio de Janeiro, com todas as despesas pagas pelo governo federal; fato jamais ocorrido na história deste país e pouquíssimo divulgado pela mídia.
Todavia, indo na contramão desta recente história, a atual gestora do IPHAN de Paraty, autarquia ligada ao MINC, resolve contrariar as diretrizes do próprio governo federal, no que diz respeito à difusão do audiovisual.
Em reunião entre a chefia do escritório do IPHAN-Paraty e dirigentes da ONG Cineclube Paraty realizada no último dia 27 de fevereiro, cuja pauta era a retomada das atividades do Cineclube Paraty na Sala IPHAN (ou Casa do Patrimônio), após pausa de fim de ano e carnaval, fomos surpreendidos pela postura daquela instituição, quando nos comunicou que:
- o escritório não tem infraestrutura para manter as atividades cineclubistas na Sala IPHAN, como o fornecimento de água potável ao público; manutenção das instalações elétricas necessárias para o funcionamento adequado dos equipamentos de audiovisual; limpeza da sala de exibição e do banheiro;
- faltam funcionários para cuidar do agendamento do auditório causando sobrecarga no desenvolvimento das atividades dos poucos funcionários do escritório,
- que as sessões de cinema não contribuem para a promoção da missão do IPHAN;
- que o auditório de 30 lugares passará a abrigar uma exposição permanente sobre o próprio IPHAN e, portanto,
- não há interesse em continuar a parceria com o Cineclube Paraty.
Gostaríamos de relembrar parte das atividades realizadas por nós na Sala IPHAN ao longo destes quatro anos de parceria:
-mostras temáticas de filmes como, A Música no Cinema e A Dança no Cinema, por exemplo, e filmes sobre a questão indígena no Brasil, documentários musicais brasileiros e sobre a diversidade cultural;
- exibição de filmes temáticos também no IV ENCONTRO FLUMINENSE DO PATRIMÔNIO com a presença do vice-diretor de informação e patrimônio cultural da Casa de Oswaldo Cruz, da Fiocruz;
- filmes em homenagem aos centenários de nascimento de Vinícius de Moraes e de Jorge Amado;
- Festival do Júri Popular, edições 2013, 2012 e 2011;
- Mostra ETNODOC de documentários etnográficos sobre o patrimônio cultural imaterial brasileiro, projeto do próprio IPHAN, edições 2009 e 2007.
Deixamos aqui a questão: será que estas atividades não estão diretamente ligadas à preservação e à valorização do patrimônio imaterial brasileiro?
E mais uma: por que o IPHAN-Paraty está deixando de acolher projetos sócio-culturais, como o Cineclube Paraty, em sua Casa do Patrimônio, como acontece em dezenas outras cidades?
Finalizando, lamentavelmente comunicamos o fim de uma parceria iniciada em fevereiro de 2011 e o fim das sessões regulares semanais gratuitas do Cineclube Paraty na Sala IPHAN. Foram aproximadamente 160 sessões de cinema, mais de 200 filmes exibidos, sendo os filmes nacionais a maior parte destes, atingindo em torno de 3.500 espectadores.
Consequentemente, perde o Cineclube Paraty, perdem os moradores desta cidade com menos um espaço cultural de acesso ao cinema e perde o audiovisual de qualidade.
Cineclube Paraty
Paraty (RJ), 25/04/2015
Fotos da desmontagem da Sala IPHAN em 25/03/15
Muito triste o que acabei de ler!
ResponderExcluirEste grupo merece nossos aplausos de pé por sua dedicação e seriedade no belíssimo trabalho de divulgação cultural que fizeram nesta deliciosa sala de exibições!!!!! Paraty perde, a população perde!!!!! Isso deve ser divulgado!!!