segunda-feira, 19 de agosto de 2013

CINÉBUS & CINECLUBE PARATY 2013



CINÉBUS
O BEM-SUCEDIDO CINEMA ITINERANTE NA FRANÇA
VISITA PARATY
E AGITA NOSSO CINECLUBE




Por Claudia Ferraz 
Fotos: Marta Viana e 
Lauro Monteiro



Esta é uma história de cinema. Aliás, de cinemas. E está longe de ser ficção, drama ou comédia. É uma história real e de final feliz, na qual a grande estrela se chama PARCERIA. No elenco, a equipe do Cineclube Paraty (o diretor-geral Lauro Monteiro, André Goes, Dus de Bruine, Danilo Medeji, Marta Viana e Claudia Ferraz), o francês e cinéfilo Eric Raguet, presidente da Association Nationale des Cinémas Itinérants e da associação Cinébus, e o também francês David Chaigne, entusiasta da ideia do cinema itinerante e responsável, desde 2009, pelo intercâmbio Cineclube Paraty e Cinébus.

Marta Viana, Claudia Ribeiro, Lauro Monteiro, Eric Raguet,
David Chaigne, Dominic e André Góes
Eduardo Dinapoli, Danilo Medeji, Bianca e David Chaigne,
 Eric Raguet,  Dominic e Pierre Bect
Lauro Monteiro, Ronaldo dos Santos, Eric Raguet,
David Chaigne e André Góes


 

Cena 1:  

o que é, o que faz, como trabalha o Cinébus

Conversei longamente com Eric, acompanhado pelo amigo David, ali na esquina do Restaurante Coupê. Eric e sua mulher Dominique, encantados com o entardecer em Paraty e admirando o casario do entorno na Praça da Matriz; eu, curiosa para saber tudo a respeito de uma associação de cinema itinerante que, além de tradicional e respeitada em seu país, recebe amplo apoio da política cultural francesa. Ficção ou realidade? Foi impossível não comparar... Afinal, em seus seis anos de atividades ininterruptas, o Cineclube Paraty ainda não conta na cidade com um reconhecimento efetivo da política cultural. Anda praticamente sozinho em suas ações voluntárias de formar público e de levar cinema de qualidade às comunidades da região. A experiência do Cinébus seria um sonho? 

Eric Raguet
Eric Raguet, 54 anos, me garantiu que não. “É uma associação sem fins lucrativos que, agora em 2013, completou trinta anos. Atua na região da Savoie, nos Alpes, em 32 comunidades que não têm cinema. O maior povoado tem 5 mil habitantes. São exibidos quatro filmes por mês, em sessões noturnas para adultos, e à tarde, para crianças de 4 a 12 anos. Todos pagam entrada, o valor mais caro é de 5 euros (mais barato que nas cidades grandes, que custam em torno de 12 euros). Crianças até 13 anos pagam 3 euros. No verão, as sessões são ao ar livre. No inverno, em salões de festa, pequenos teatros, salas polivalentes”, contou ele, que há doze anos é diretor do Cinébus. Mas seu início, por cerca de sete anos, foi como projecionista. “Era a profissão do meu pai. Cresci numa cabine de projeção. Não foi, entretanto, o cinema que me estimulou no início. Só me tornei um cinéfilo mais tarde, já adulto. O que me cativou nessa profissão foi o poder de educação popular que tem o cinema itinerante”, confessou Eric, hoje à frente não só do Cinébus, mas também da l´ANCI, Association Nationale des Cinémas Itinérants. Com múltiplas funções, ele administra, gerencia a equipe e o processo de seleção de filmes, organiza festivais, encontros com diretores de cinema, especialmente italianos, pela proximidade geográfica, amplia contatos e fronteiras. Ele completa: “Enquanto estou aqui no Brasil, nesta parceria com o Cineclube Paraty, uma equipe está realizando um circuito de duas semanas de cinema itinerante na Bósnia.”


Aos poucos, fui sabendo mais. O Cinébus é um dos três maiores circuitos itinerantes da França, entre os cerca de oitenta que atuam por lá. “É uma particularidade nossa, tal como o grande número de salas independentes que há pelo país. E contamos, desde 1945, com o CNC, Centre Nationale de la Cinématographie, um apoio que justifica o valor que o cinema francês tem no mundo. A contrapartida da subvenção que os circuitos recebem do Ministério da Cultura é a exibição de filmes de autor. Em nossa programação, selecionamos 70% de filmes de autor e 30% de filmes de maior apelo popular”, completa Eric Raguet, que ainda me deixou surpresa ao revelar o alto nível de profissionalismo que existe no trabalho com cinema itinerante. 
“Na equipe do Cinébus há cinco projecionistas, uma secretária e eu, todos assalariados, trabalhando em tempo integral. Temos um orçamento anual de 560 mil euros, sendo que 70% dos nossos recursos vêm da venda de ingressos. As ajudas públicas são de entidades administrativas. Os municípios não dão incentivo em dinheiro, mas garantem locais de exibição e toda a infraestrutura. Temos força territorial e não econômica na política cultural francesa, pois atendemos os povoados sem cinema”, finaliza Eric Raguet.



Cena 2: 

a incrível e mágica Maleta Pré-Cinema


Nos dias seguintes à nossa conversa no Coupê, participei das chamadas oficinas Educação para a Imagem, nas quais a grande atração é um mundo mágico de artefatos saídos de uma maleta com aparência de antiguinha, capaz de nos levar de volta ao tempo em que o cinema ainda era um desafio na história do homem.

O que é o cinema? Como nasceu? Como funciona a imagem em movimento? As respostas, todas práticas, divertidas e estimulantes, fazem parte do kit pré-cinema, um material pedagógico feito artesanalmente pela equipe do Cinébus, e que foi doado ao Cineclube Paraty, marcando com muita afetividade e boa camaradagem essa história da parceria franco-brasileira entre as duas associações.









Na qualidade de professor, Eric Raguet deu um show em suas oficinas. Primeiro fomos nós, da equipe do Cineclube, que passamos uma tarde olhando, observando, experimentando, recortando, desenhando, tudo para fazer funcionar as engenhocas da maleta e entender como funciona nosso olhar com imagens em movimento.
Depois, foram dois dias de oficina com crianças e pré-adolescentes, cerca de 35, da Casa Escola, na Ilha das Cobras. Com total envolvimento e curiosidade à flor da pele, meninos e meninas soltaram a criatividade e aproveitaram pra valer as propostas da maleta mágica.





Marlon Silva de Araújo, de 8 anos, da Escola da Mangueira, escolheu desenhar dois movimentos de um jogador de futebol para testar o que aprendeu. Ao cinema ele foi uma vez, em Angra. Como o Bruno Teixeira, de 9 anos, na 3ª série também da Mangueira, que estava animadíssimo desenhando as cenas de pássaros fugindo da boca de um vulcão. Lara Rodrigues e Saliny Souza, de 12 anos, não perderam uma frase e nem um movimento do Eric durante toda a oficina. E estavam adorando testar o movimento de seus personagens, desenhados de braços levantados.




Esta passagem do Cinébus por Paraty pode ser um bom começo, quem sabe, para novas histórias de amor pelo cinema. E a gente fica na torcida aguardando o trailer do que virá da boa camaradagem franco-brasileira na história da grande aventura que é fazer cinema itinerante, trabalhando com garra e qualidade para estimular as novas gerações.


Última cena: o início

dessa parceria franco-brasileira


O fio dessa história começou no final de 2009, em iniciativa que integrou as celebrações oficiais do Ano na França no Brasil. Foi quando aconteceu a primeira co-realização entre as duas entidades, Cinébus e Cineclube Paraty, para viabilizar sessões de cinema itinerante em bairros da periferia de Paraty. Junto com David Chaigne, amigo que intermediou as negociações por meio da associação Eloisa de Mediações Culturais, veio ao Brasil Bernard Seyssel, representante do Cinébus. Era a primeira vez que a associação francesa realizava exibições fora de seu país. Na ocasião, Seyssel reconheceu: “Começamos há 25 anos, da mesma maneira que o Cineclube Paraty, o que nos sensibilizou muito a participar. Para nós é uma grande aventura, para essa troca de experiências fizemos questão de trazer parte da nossa estrutura e usar nosso equipamento.”




Para o Cineclube Paraty, o fruto dessa parceria confirmava que valia pena acreditar, arregaçar as mangas e fazer cinema itinerante na região. Porque o projeto foi um sucesso: sete localidades do município foram atendidas, reunindo uma platéia de 1.400 pessoas, crianças e jovens em sua maioria, para a exibição de quatro filmes projetados em um imenso telão inflável. Quem participou não esquece a emoção de momentos incrivelmente belos, provocados pela magia do cinema junto a uma platéia até então sem acesso a esse espetáculo.


Na contrapartida, surgiu em 2010 a chance de o Cineclube Paraty ir à França, para ver de perto a experiência bem-sucedida do cinema itinerante, há 30 anos desenvolvida pelo Cinébus. A missão coube ao então diretor-geral André Góes que, durante o rigoroso inverno francês, pode assistir a algumas sessões em salas da região do Rhône-Alpes, em pequenas localidades como Thorens Glières e Frangy.Claro, a bem-sucedida experiência francesa entusiasmou André Góes e contagiou toda a equipe do Cineclube Paraty, que teve muito gás naquele mesmo ano de 2010, em dezembro, para realizar o projeto Pé na Estrada, levando cinema de qualidade às comunidades distantes do centro da cidade. Incentivo da experiência francesa? Sem dúvida conhecer de perto o Cinébus e viver as trocas de experiência ajudou a alterar o DNA do Cineclube Paraty.

Realização:

Cineclube Paraty
Ciné Bus
Associatíon Heloisa

Apoio

Vila Volta
Atelier Varanda-Lauro Monteiro

Apoio Cultural 
Prefeitura de Paraty-Secretaria da Cultura



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