Estas supreções paulatinas ao longo da trajetória do Coutinho buscavam o essencial, segundo seus critérios e conceitos. Para ele, os depoimentos pessoais-íntimos-verdadeiros dos seus personagens reais era o que lhe interessava; era o fundamental para os seus filmes. Ou ainda, cada vez mais o essencial para Coutinho era a PALAVRA, que aliás deve ser o título do documentário que ele deixou inacabado e que se encontra um processo de edição e montagem.
Se considerarmos que o essencial na narrativa de um filme é a imagem, pode-se dizer, em outras palavras, que a trajetória da obra do Coutinho caminhou para o não-cinema. E mais; nos seus últimos filmes, o silêncio passou a ser ainda mais valorizado, ou seja, a não-palavra, o não-áudio. Portanto, o final da sua trajetória fílmica caminha junto com sua vida, chegando a não-imagem e ao não-audio, ao não-cinema, ao NADA, que pode ser igualado à morte, a sua morte de fato, tragicamente ocorrida no último fevereiro.
Por outro lado, voltando à sua ideia inicial de eliminar as imagens ilustrativas, pelo motivo de limitar as muitas possibilidades imagéticas criativas dos espectadores, a partir dos depoimentos dos entrevistados, e retomando a ideia acima do não-cinema, na ausência - ou quase - de imagens, e com muitos silêncios, fica oferecido aos espectadores a imensa gama de possibilidades de imaginar, de criar qualquer coisa, ou TUDO. Desta maneira, concluindo, agora Eduardo Coutinho e sua obra são TUDO.
(texto escrito a partir de encontros com João Moreira Salles e Jordana Berg durante a Flip 2014)
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