quarta-feira, 13 de maio de 2009

Alexandra

O diretor e roteirista Alexander Sokurov faz um cinema de delicadezas, de versos límpidos e claros e, talvez por isso mesmo, não seja apreciado por todos. No filme Alexandra (2007), lançado recentemente no circuito brasileiro, mas já exibido na Mostra de Cinema de São Paulo do ano passado, ele usa essa poesia para confrontar a guerra.

Alexandra (vivida pela soprano Galina Vishnevskaya) é uma mulher idosa que vai a um acampamento militar na Chechênia para encontrar seu neto, capitão do exército russo. O olhar dela é o fio condutor do filme, por meio do qual sentimos o estranhamento do ser humano diante do ambiente de conflito e da realidade dos que nele estão envolvidos, tanto os militares quanto os civis que habitam a cidade arruinada nas redondezas.

Alheia à guerra, Alexandra se preocupa com o estado do uniforme de seu neto, com a juventude dos soldados, com o calor, o aperto e o cheiro do interior de um blindado, com a miséria e o orgulho dos chechenos que procuram sobreviver em meio às ruínas. A escolha da protagonista também não é gratuita: o impacto da presença de Alexandra, uma avó, nos soldados e civis é o da lembrança de um outro mundo, de conforto e carinho, sem dor ou morte.

Com poucas palavras, Sokurov constrói um clima de carinho entre a protagonista e os outros personagens sem cair na banalidade do "e todos aprenderam uma lição"; tampouco o diretor utiliza seu filme para fazer um manifesto contra a ofensiva que seu país lançou sobre a Chechênia, mesmo sendo esta uma das ações mais violentas e cruéis das últimas décadas. O ataque dele é contra não uma, mas todas as guerras.

Isso porque Sokurov aborda os aspectos mais nefastos, e sempre ignorados, de um conflito: não o óbvio - os tiroteios, o sofrimento, as mortes -, mas, sim, a destruição da estrutura emocional e coletiva de todo um povo, assim como a dos soldados envolvidos diretamente nas batalhas. O diálogo de Alexandra com o jovem checheno que a acompanha até o acampamento é uma das cenas mais belas e pungentes de um filme lindíssimo.

O Cineclube Paraty exibirá, na última quarta-feira deste mês (dia 27) a obra-prima de Sokurov: o filme Arca Russa.


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